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Foto do escritorIsa Vicente

Lições sobre ameaças que a proibição da venda de cerveja na Copa 2022 trazem

Quando falamos de ameaças nos negócios, nos referimos a coisas incertas que podem ou não acontecer, ser previsíveis ou não, boas ou ruins - a depender do ponto de vista - mas que se acontecerem vão prejudicar o sucesso do negócio, mas também de qualquer outro empreendimento humano: carreira, emprego, projeto etc.


Alguns exemplos de ameaças fáceis de entender seria você querer ir à praia no fim de semana e ficar preocupado com coisas que você sabe que podem acontecer e estragariam os teus planos como

  • clima: vai que chove, mesmo que a meteorologia passou a semana toda afirmando que faria sol

  • saúde: e se você acorda no dia com uma diarreira terrível, ou, para as mulheres, tá naqueles dias?

  • dinheiro: será que o tanto de grana que você tem e vai levar é o suficiente para ir e voltar, abastecer, comer, uma reserva para o caso de emergência inesperada, como um pneu furado, ou precisar passar a noite num hotel (por causa da chuva, por exemplo)

  • transporte: Vai de carro? Rodízio, manutenção, combustível etc. De ônibus? horários, passagem, etc


Eu não sei quanto a você, mas se fosse meu caso, eu iria planejar isso com antecedência, para poder mapear com mais calma tudo o que pode dar errado - bem como tudo o que pode dar certo - e criar planos de contingência (os famosos "planos B") do que fazer para a) evitar que a ameaça se concretize; b) ter uma alternativa para seguir com o plano original desviando da ameaça, caso ela aconteça e não tenha como evitar c) caso não tenha como evitar ou desviar, pelo menos diminuir o impacto da ameaça no resultado: perder o mínimo de dinheiro, tempo, energia etc


Como eu faço? Saiba mais aqui


Mas, e o que tudo isso tem a ver com o título, a Copa, o Qatar e a cerveja?


Contexto

Imagine que você é uma grande marcar de cerveja e que vai patrocinar um evento que pode garantir um faturamento altíssimo em pouco tempo, já que você provavelmente vai vender o produto a preço de ouro e vai ter muita demanda (ou seja, muita gente querendo comprar e disposto a pagar o teu preço de ouro). Então, se você normalmente vende uma unidade por um real para um público de 100 pessoas, tendo um faturamento bruto de R$100, em eventos como na Copa você vai vender a mesma unidade por R$10,00 para essas mesmas 100 pessoas, por exemplo, faturando R$1000. E em eventos como a Copa, só no estádio cabem uns 40 mil indivíduos. Mesmo que só 10% desse público (4 mil) consuma o teu produto, com o preço mais alto você ainda iria lucrar muito mais alto em um único dia da Copa - e exponencialmente mais durante todo o período da Copa toda - do que com o preço normal em outra data qualquer. Faça as contas!


Aí, você como grande empresa patrocinadora de um evento de repercussão internacional, que já movimentou uns bons milhões para deixar tudo arrumado para o grande dia - e os dias seguintes -, colocou a fábrica para trabalhar em força total, gente e parceiros para trabalhar loucamente para garantir que não falte produto pra ninguém e em lugar nenhum, pra não perder vendas, fecha contratos depois de longas reuniões de negociação e planejamento envolvendo não apenas empresas, mas países diferentes.. e dois dias antes da abertura do evento, o país que vai sediar o evento que seria o foguete que levaria os lucros da empresa às estrelas vira e diz que vai proibir a venda da cerveja nos estádios.


Leia a notícia da íntegra aqui.


Consequências

Mesmo que a Budweiser fosse avisada previamente da decisão - e tivesse tempo suficiente para interromper as atividades - teria grande prejuízo. Imagine então o prejuízo que não causaria receber essa notícia a menos de uma semana antes do evento, depois de tanto planejamento, discussão e negociação, contratos firmados e recursos gastos (dinheiro, tempo, pessoal etc)?


Causas do problema

O que você acha que realmente causou esse prejuízo, desencontro ou chame do que quiser? Responde aí abaixo:

Qual a real causa do problema que a proibição repentina da venda de cerveja na Copa 2022?

  • Falha no planejamento

  • Falha na análise de riscos

  • Falta de conhecimento da cultura do país antes de planejar

  • Todos


Falta de conhecimento da cultura do Qatar

Eu diria que todas essas alternativas e muito mais estão corretas e se relacionam. Mas, na minha humilde opinião, o principal fator de risco, que já era uma ameaça latente, dando tapa na cara e beeem previsível foi a falta de um melhor conhecimento da cultura do país Sede.


Pense comigo: o Qatar é um país árabe, cuja religião predominante é o Islã, o profeta é o Maomé, e a Bíblia deles é o Alcorão. Por menos que alguém saiba sobre aquelas bandas, sabemos que os costumes do país são pautados por essa religião, que proíbe um monte de coisas, são tabu para muitas outras e são atacados por vários outros países por isso e muito mais.


Se você leu a notícia que eu linkei aqui na página, deve ter visto que há versões ou ramificações do Islã que proíbem o consumo do álcool, e há lugares por lá que você pode ser severamente punido ou preso só por tomar uma gelada. Ao contrário de outros países, você não encontra cerveja e outras bebidas alcóolicas dando sopa nos estabelecimentos comerciais - acho que "bar" não é um conceito tão comum para a maioria dos árabes -, o que torna o produto escasso, logo, muito caro.


Além disso, tem a questão política por trás da religião: enquanto do lado de cá do Atlântico a maioria dos países são regidos por presidentes da República, por lá quem manda é a monarquia. E se você já estudou um pouquinho de história na escola, talvez se lembre que os reis, principalmente no absolutismo, costumavam agradar os nobres e a Igreja para manter seu poder. Com países islâmicos não é muito diferente. Então, o que pode ter acontecido é que a realeza, para fazer os gostos dos mais poderosos que os mantêm no poder, tomaram essa decisão em cima da hora.



Conclusão do argumento

Agora, deixando tudo isso de lado por hora, vem o meu argumento sobre a desatenção da empresa quanto à cultura do país: se você sabe que um determinado país tem esse tipo de nuance em relação ao teu produto principal, você não acha que é uma ameaça muito grande e palpável aos interesses da empresa? Afinal, isso não é novidade e nem restrito ao conhecimento de poucas pessoas - está amplamente divulgado.


Minha Solução proposta

Post com fundo preto, uma ampulheta com areia roxa, e um quadrado de bordas arredondadas verde com a frase "assumir uma atitude responsável perante o futuro sem uma compreensão do passado é ter um objetivo sem conhecimento. Compreender o passado sem um comprometimento com o futuro é conhecimento sem objetivo"
A importância de ter um objetivo, conhecer o passado e se comprometer com o futuro

Então, se eu fosse a empresa, teria, antes mesmo de considerar patrocinar o evento, juntado toda a equipe envolvida no projeto e feito uma pesquisa sobre o país, a cultura e costumes - seja no Google, ou conversando com nativos ou estudiosos como antropólogos e sociólogos. Um investimento em pesquisa que teria evitado muito transtorno futuro -, teria feito uma análise SWOT mais profunda e levado esse detalhe em conta na hora de pesar os prós e contras de patrocinar ou não o evento em um país onde o meu produto principal não é tão bem-vindo como em outros lugares. E por último, criaria estratégias de contingência para

  • evitar a concretização das ameaças

  • gerar rotas alternativas para contornar as ameaças - se concretizadas - e atingir meu objetivo mesmo assim

  • caso as ameaças sejam iminentes e não tenha como desviar ou impedir, como ser atingido por elas com o mínimo de dano ou prejuízo possível


Isso iria mudar totalmente os limites do planejamento para o evento, se é que haveria um - caso eu notasse um risco muito grande de problemas que trariam mais prejuízo do que lucro.





Mas é fácil falar o que eu faria se fosse ela, depois que a coisa já aconteceu, né.

Além disso, certamente havia outros fatores relevantes em jogo que pesaram mais a favor da decisão do que contra - assim eu espero.


Não estou julgando, falando mal ou acusando a empresa ou o Qatar de nada. Apenas dando meu parecer sobre a situação para que ilustrar a famosa análise SWOT, para que você, leitor, entenda a importância, benefícios, abrangência e profundidade do assunto e da ferramenta.




E as micro e pequenas empresas com isso?

Aí, talvez você deve ser um MEI ou pequena empresa, lendo esse texto e pensando: "tá, e como isso me afeta?"


Se você estiver no Brasil, vai assistir a Copa aqui mesmo, e não atua no mercado de bebidas, então essa notícia em si não lhe afete em muita coisa diretamente. Porém, #ficaadica: qualquer coisa que você for fazer, parcerias principalmente - seja nos negócios, mas também na carreira profissional, nos estudos e até na vida pessoal, você precisa pesar todas as variáveis possíveis que podem afetar o resultado desejado com essa ação e criar os devidos planos de contingência, plano B, carta na manga ou protocolo "em caso de incêndio", para que você não perca a cabeça se ou quando as coisas começarem a sair dos trilhos do teu planejamento.


Em termos de negócios, essa notícia demonstra a importância da Análise SWOT, uma ferramenta de gestão e planejamento estratégico tão útil e às vezes, por sua simplicidade, negligenciada por empresas maiores - mas principalmente pelos MEIs e outros tipos de empreendedorismo individual ou de menor porte como tal -, resultando em catástrofes como essa.


Ok, essa proibição repentina da cerveja foi a mais, e acho que nem o mais pessimista de nós poderia prever isso - ou poderia? Mas a questão é que há coisas que estão ali e que a gente não quer ver, considerar, ponderar... queremos ser otimistas, mas nos negócios precisamos ser realistas e lidar com os fatos diante dos nossos olhos

Solução: Matriz SWOT


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